terça-feira, 18 de maio de 2010

Um texto de António Souto

Texto de António Souto, outro dos primeiros leitores de «O Sorriso Enigmático do Javali».
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Um sorriso de encantar
Doze contos, tantos quantos os meses do ano. Assim se anuncia o recente livro de António Manuel Venda, «O Sorriso Enigmático do Javali» (Quetzal, 2010). Espécie de ciclo, um ciclo, numa progressão narrativa que por vezes não se inibe de recuperar, em estratégia de verosimilhança, informação de contos anteriores e até mesmo de obras publicadas. Contos que se traduzem em histórias dentro de uma história maior. Porventura a da escrita e de quem a escreve ou vai escrevendo.
O narrador sabe do que fala e dos que falam (gente ou não, animais ou não, que a flora e a fauna estão bem presentes e ganham vida). Um narrador que sabe como sonha uma criança, ou como lhe nascem os sonhos. Um narrador-pai, em suma, ou um narrador-autor(?).
Tukie, pequeno protagonista, tem uma irmã, bebé imperturbável, alheia ainda à natureza e à natureza das coisas; uma mãe que assoma nas narrativas como quem vem ao encontro das circunstâncias e vigia e socorre os filhotes de duvidosas ameaças; um pai que viaja bastante por força do trabalho que tem na capital mas que não perde pitada das proezas que se passam em derredor da casa.
Uma casa em pleno montado, uma casa acolhedora e protectora, porém aberta ao exterior e aos que nele habitam, os animais que vêm e vão, que por ali cirandam familiarizados.
Tukie cresce à solta, quase sempre ao lado do pai, sob o seu olhar atento, e enquanto cresce faz a aprendizagem da vida numa caminhada iniciática. Uma criança feliz com as descobertas do quotidiano, dos seus sólitos e insólitos casos, tudo num contar bonito e meigo roçando um realismo mágico, entre um maravilhoso e um fantástico pouco frequente na nossa literatura.
Poder-se-á dizer que este conjunto de contos (romance?) cativa qualquer leitor que se deixe envolver em cada um deles, sobretudo o leitor que conhece os mistérios da terra (ou que os queira desvendar um bocadinho), como num regresso à infância, a uma infância impregnada de momentos deliciosos de humor.
Dir-se-á, uma obra de encantar!
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