domingo, 16 de maio de 2010

Certamente um dos primeiros leitores

Recebido por e-mail no dia em que o livro foi para as livrarias (14.05.10), de um dos primeiros leitores de «O Sorriso Enigmático do Javali». Publico aqui o texto, após ter tido o consentimento do autor.
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Ontem reservei um exemplar de «O Sorriso Enigmático do Javali» na Bertrand do Rio Sul. E hoje, pelas dez horas – para me obrigar a fazer exercício –, fui até lá a pé. O centro comercial fica junto a uma localidade chamada Torre da Marinha, a mais de quatro quilómetros da minha casa.
Antes de falar sobre o livro, devo dizer que fiz questão de não ler qualquer excerto relacionado com o mesmo. Por isso, até ontem só conhecia a capa e só hoje conheci o conteúdo.
Quando abandonei a livraria, decidi beber uma água na esplanada (interior) dos restaurantes, que àquela hora estava quase deserta. Beber uma água e descansar um pouco as pernas, antes de palmilhar os restantes quatro quilómetros da jornada. E foi ali mesmo que li o primeiro conto – o das perdizes. E só agora, às cinco da tarde, consegui fechar o livro, muito devagar, de modo a não perturbar o sono do Tukie, embora com a quase certeza de que, um dia destes, voltarei a ter notícia de novas aventuras do petiz.
Que dizer sobre o livro?
Estou naquela situação de alguém que quer dizer tanta coisa mas que não sabe por onde começar. Todavia, para arrumar ideias, vou começar pela emoção, que é para mim o primeiro critério na apreciação de qualquer obra, isto é, o nível de emoção que ela consegue despertar. Emoção e identificação. A meu ver, se não há emoção não há arte. A julgar pelo que sinto, creio que a esmagadora maioria dos leitores se identificará com o Tukie e ligará as suas memórias de criança às aventuras deste pequeno herói.
De qualquer modo, este livro surpreendeu-me. Na realidade, eu estava à espera de um romance ou de uma novela. Apesar disso, encontro algumas coisas em comum com o anterior («Uma Noite com o Fogo»). Refiro-me não só à ligação à terra, à natureza, mas também à observação atenta, requisito indispensável a qualquer escritor. Tal como o anterior, este livro revela a capacidade de olhar para além da superfície das coisas e para perscrutar as emoções próprias e alheias. Este livro é o resultado inevitável do caldear das memórias do autor (o pai) com a sua capacidade para decifrar os espantos genuínos do filho.
A escrita flui bem e recorre de quando em vez ao suspense, embora os contos terminem, normalmente, numa atmosfera serena que se coaduna com o género.
Em resumo: gostei do tema, do tom e do estilo e bom seria que todas as escolas (pelo menos as do ensino básico) pudessem dispor de um ou dois exemplares nas suas bibliotecas; até porque – hoje em dia – são poucas as crianças dos meios urbanos que têm a felicidade de poder experimentar este tipo de vivências junto de quem as possa guiar no relacionamento com o mundo envolvente.
Manuel Ramalhete
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2 comentários:

  1. Calculo que saiba muito bem receber um feedback destes... Parabéns!

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  2. Encaixa perfeitamente em qualquer crónica de opinião. Gostei.

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